sexta-feira, 15 de outubro de 2010

“Tique butique que tique te gamou..."




Sobre as eleições, sobre a copa do mundo de futebol social, sobre o tropa de Elite II, sobre Doces Bárbaros, Som nosso de cada dia, Clube da esquina, sobre minha carreira, Eduardo Coutinho, Glauber Rocha, Jodorowsky, sobre o tempo, dinheiro, amor...

“Pensar nas coisas eternas que não duram mais que um dia”

Parece que quanto mais mastigo, mais tempo leva a digestão. E percebo cada vez mais e mais que não estou preparada pra julgar ou analisar nada e que tudo que eu sei sobre qualquer coisa é absurdamente raso.
Fiquei quieta por um tempo e, além de descobrir que ainda assim fazia muito barulho, descobri que me calar também não é o caminho. Parei de me desesperar, mas vi que a calma fica lá do outro lado de sei lá onde.

Derramado no chão do meu quarto encontrei uma caixa cheia de coisas do meu passado. Um discman, algumas cartas, carteirinhas, fotos. Mexi com o maior carinho e desapego do mundo. Cuidado que deixo de lado na correria do dia a dia. A preguiça de encontrar, de telefonar, os ricos nos filmes, nos CDs.  No fim, tudo que fica, fica. 

Acho que encontrei um caminho que finalmente gosto MUITO de trilhar e pela primeira vez na minha vida não tenho pressa.

Percebi que o sistema, e não importa de qual esfera estejamos falando,  está configurado de tal forma, que quanto mais você cresce, mais você quer crescer e mais você se torna dependente do sistema que te quer pequenininho. 

Você pode até negar a dança, mas, com certeza, vai querer dançar com alguém que já entrou na roda e que até hoje samba com alguns vícios globais.  Vício que faz parte da paranóia do sistema que te obriga a ganhar, mensurar, sambar e continuar ali quietinho. Com medo que amanhã tudo se desmache, rápido que nem o ritmo acelerado da porra do sistema, e aquilo que você acredita faz parte apenas um roteiro de ficção que não vai passar no festival. 

“Difícil é ser o que se é e sentir apenas o roçar do vento nos cabelos...”
e sonhar, e acreditar, e se matar de amar, de amor....

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Prosa da Madrugada...





A oportunidade criar Avatares que são exatamente aquilo que se queria ser, não deixa as pessoas com cagaço de viver e tentar ser de verdade?
“Concordo inteiramente com você - disse a Duquesa. -
E a moral disso é: 'Seja o que você pareceria ser'.

Ou se você preferir isso dito de uma maneira mais simples: 'Nunca se imagine como não sendo outra coisa do que aquilo que poderia parecer aos outros que aquilo que você foi ou poderia ter sido não fosse outra coisa do que o que você poderia ter sido parecia a eles ser outra coisa'. - Alice no país das maravilhas


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Piros, rodopios...




Um sopro gelado lhe subia a espinha quando ele deixava seu ombro .

Era daquela energia que o velho sábio falava.

Os dois suspiros censurados pelo olhar calmamente ansioso, louco passear.

Dois inquietos suspiros, frutos de um quase susto, preso no olhar de menino.

Era daquela energia que o velho sábio falava.

Dois olhares presos no suspiro gelado do corpo ...

Era uma vez...




Era uma vez...

..........Nã,nã,não, uma vez não!

Eram algumas vezes....
..........Hum... também não!


Era pra sempre, em uma aldeia distante, uma índia que gostava de ouvir histórias.

Quando quase moça, lhe contaram a lenda de um passarinho cujo canto, de bonito, colocava a floresta inteira em silêncio a observar.

A lenda dizia que uma índia se apaixonou por um tal moço que casou com uma fulana. Inconformada, pediu ao xamã da tribo que lhe transformasse em pássaro para todo dia cantar pro seu amado.

Daí nasceu Uirapuru.


Era pra sempre, na mesma aldeia, um índio ligeiro que já conhecia canto, conhecia passarinho e, principalmente, já sabia que faz de conta é da conta de quem conta e final triste nenhum esta escrito.


A aldeia tem um ritual muito importante. Todos ganham um totten que deve nortear seus passos e lhes ajudar a construir um futuro. É algo para o qual todos se dedicam: para sempre.


Não existe idade certa para recebê-lo. A vida mostra, para cada um em um momento diferente, qual caminho seguir.


Pois já fazia mais de duzentas luas crescentes e nada da tal índia descobrir qual era seu totten.


Afobada que só, corria pra lá e pra cá tentado se orientar. Como desculpa pra pensar, passava dias observando os bichinhos a sua volta.


Já sabia que a aranha vive daquilo que tece e resolveu olhar pra trás pra conhecer sua teia.

O índio também não havia recebido nada, mas já tinha vivido algumas luas a mais e, nascido na época de cheia, sabia esperar...


Em um ritual comum de iniciação, que muito se assemelha a uma quermesse, a curiosidade da índia orientou-a, de uma forma apaixonada, a conhecer onde o sol se esconde.

Num psiu, toda daquela fanfarra se fez cinza e a índia correu em direção ao horizonte. Logo encontrou o índio, sorridente rapaz, que começou a conversar com a moça.

Conheceram um pouco um do outro e quase, quase, um pouco de si.



Por um tempo, se cruzavam quase desconhecidos.


Logo, logo, ali na frente, pouco antes da lua se deixar ser cheia, os dois sentiram uma coceira na beira do peito e correram novamente pro horizonte em busca de abrigo. Nunca antes tinham ido pra lá, mas o quente se vez tão aconchegante que tudo aquilo que não era o sol descoloriu e os dois dispararam a correr.


Antes mesmo de chegar se tombaram no caminho.


Ele sabia que a encontraria. Ela não conseguiu falar.

De nervoso, o coração fez que pareceu que sairia pela boca.

Naquele momento canto o canto mais bonito, do pássaro mais raro que nunca antes tinham ouvido.





A menina entendeu.





Agora lhe cabia mudar o fim daquela fábula.