quarta-feira, 16 de junho de 2010

Era uma vez...




Era uma vez...

..........Nã,nã,não, uma vez não!

Eram algumas vezes....
..........Hum... também não!


Era pra sempre, em uma aldeia distante, uma índia que gostava de ouvir histórias.

Quando quase moça, lhe contaram a lenda de um passarinho cujo canto, de bonito, colocava a floresta inteira em silêncio a observar.

A lenda dizia que uma índia se apaixonou por um tal moço que casou com uma fulana. Inconformada, pediu ao xamã da tribo que lhe transformasse em pássaro para todo dia cantar pro seu amado.

Daí nasceu Uirapuru.


Era pra sempre, na mesma aldeia, um índio ligeiro que já conhecia canto, conhecia passarinho e, principalmente, já sabia que faz de conta é da conta de quem conta e final triste nenhum esta escrito.


A aldeia tem um ritual muito importante. Todos ganham um totten que deve nortear seus passos e lhes ajudar a construir um futuro. É algo para o qual todos se dedicam: para sempre.


Não existe idade certa para recebê-lo. A vida mostra, para cada um em um momento diferente, qual caminho seguir.


Pois já fazia mais de duzentas luas crescentes e nada da tal índia descobrir qual era seu totten.


Afobada que só, corria pra lá e pra cá tentado se orientar. Como desculpa pra pensar, passava dias observando os bichinhos a sua volta.


Já sabia que a aranha vive daquilo que tece e resolveu olhar pra trás pra conhecer sua teia.

O índio também não havia recebido nada, mas já tinha vivido algumas luas a mais e, nascido na época de cheia, sabia esperar...


Em um ritual comum de iniciação, que muito se assemelha a uma quermesse, a curiosidade da índia orientou-a, de uma forma apaixonada, a conhecer onde o sol se esconde.

Num psiu, toda daquela fanfarra se fez cinza e a índia correu em direção ao horizonte. Logo encontrou o índio, sorridente rapaz, que começou a conversar com a moça.

Conheceram um pouco um do outro e quase, quase, um pouco de si.



Por um tempo, se cruzavam quase desconhecidos.


Logo, logo, ali na frente, pouco antes da lua se deixar ser cheia, os dois sentiram uma coceira na beira do peito e correram novamente pro horizonte em busca de abrigo. Nunca antes tinham ido pra lá, mas o quente se vez tão aconchegante que tudo aquilo que não era o sol descoloriu e os dois dispararam a correr.


Antes mesmo de chegar se tombaram no caminho.


Ele sabia que a encontraria. Ela não conseguiu falar.

De nervoso, o coração fez que pareceu que sairia pela boca.

Naquele momento canto o canto mais bonito, do pássaro mais raro que nunca antes tinham ouvido.





A menina entendeu.





Agora lhe cabia mudar o fim daquela fábula.

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